O fotógrafo Zhao Huasen retrata os habitantes chineses naquele que é quase o veículo oficial do país: bicicletas. Depois ele edita as imagens e retira as magrelas - deixando os usuários literalmente voando pelas ruas.
Blog do Diogo Luz
terça-feira, 26 de junho de 2012
Criatividade fotográfica
O fotógrafo Zhao Huasen retrata os habitantes chineses naquele que é quase o veículo oficial do país: bicicletas. Depois ele edita as imagens e retira as magrelas - deixando os usuários literalmente voando pelas ruas.
Um sorriso Emoldurado - Crônica na Revista Bula
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Os cadáveres do humanismo
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Artigo no blog do senador Demóstenes
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Nas noites de terça
As mãos percorriam minha barba enquanto um olhar minucioso avaliava meus lábios e olhos. A boca dela se retorceu por um segundo enquanto media o tamanho e o formato das orelhas, ampliando ao máximo o suspense da crítica. Prendi a respiração para ouvir veredito: –“É... até que você é bonitinho”. O resultado não poderia ser melhor, admito. Confesso ainda que o fato de ambos estarmos nus naquela cama surtiu um efeito positivo sobre a jurada – mas nada que possa ser configurado como compra de votos, fiquem tranquilos.
Nos deixamos ficar ali, espreguiçados, apenas relaxando sob o ar condicionado por alguns minutos. Tudo parecia tranqüilo e até mesmo sugeri que passássemos a noite juntos. Ela voltou a aninhar-se no meu peito a acariciar minha barba. Ergueu a outra mão e fez festa nos meus cabelos. Talvez estivesse mesmo arrumando um penteado ou algo assim. Depois de terminar os ajustes, me encarou nos olhos com uma sinceridade esmagadora. “ – Você precisa de alguém para cuidar de você”, e me beijou nos lábios. Logo em seguida apanhou a toalha e foi para o chuveiro.
Ficamos a sós. Eu e as minhas imagens refletidas em centenas de espelhos espalhados pelo quarto. Acendi um cigarro e comecei a pensar naquela frase. Não nos conhecemos há muito tempo e, para falar a verdade, estou com ela mais pela carência de uma rejeição recente. Não me acusem, a garota também não é apenas bondade. Mas enfim, formamos um casal de apoio mútuo e está bom assim. Apesar de tudo isso, a frase martelava insistentemente na minha cabeça. De súbito vi que estava na merda. Um conselho desses (“você precisa de alguém para cuidar de você”) só é dado para alguém que vai de mal a pior.
Ela voltou a deitar-se ao meu lado, desta vez com os cabelos molhados. As gotas espalhavam-se entre nossos corpos e encharcavam todo o colchão. Não achei ruim, pelo menos refrescava ainda mais aquela noite infernal – o ar condicionado não era dos melhores, afinal de contas. Acendemos cigarros e ficamos parados, tentando prolongar ao máximo aqueles minutos de prazer. Desisti de tentar compreender o porquê daquele conselho. A verdade é que eu realmente preciso de alguém para cuidar de mim – e ela sabia que não seria capaz de cumprir a tarefa, ou simplesmente não se importa.
Os fios rudes
A vantagem de trabalhar viajando constantemente é o tempo disponível para tirar um cochilo entre uma parada e outra. O desconforto, o sacolejo incessante provocado pela estrada cheia de buracos e as constantes cabeçadas no vidro da janela – e o conseqüente torcicolo de cada dia – não são nada comparados ao solitário prazer de puxar uma palha no meio da tarde. No meu caso, valorizo ainda mais esses momentos de ócio porque consigo, de certa forma, conduzir meus pensamentos nesse estado de torpor. Uma espécie de sonho lúcido.
A ideia é ridícula, mas é a mais pura verdade. Basta sentar no banco e me aconchegar para enfrentar 500 km de estrada e me entrego inteiramente ao sono. As imagens começam a surgir logo depois. Na última viagem, por exemplo, enquanto meus companheiros deliciavam-se com as tonalidades do meu ronco, me vi em algum lugar campestre, uma casa aconchegante – e uma filha. O enredo não interessa, mas a sensação de caminhar ao lado daquela criança é indescritível.
Não foi o meu primeiro encontro com a menina, minha filha. Nos vimos em outros lugares, algumas vezes urbanos, caóticos, paradisíacos; mas sempre acompanhados, nutrindo uma sensação de confiança mútua. Muitas vezes desejei não acordar. Não queria abandoná-la em algum ponto da minha mente, desamparada. Acordar significa, acima de qualquer coisa, que ela deixa de existir. Talvez tudo isso seja um pouco de carência, eu sei. No final, sempre acreditei que o único amor incondicional é o paternal.
Uma coisa que sempre chama minha atenção nos meus sonhos é que a minha filha gosta da minha barba. Quando a seguro em meus braços, a sua mãozinha sempre procura os fios emaranhados e rudes no meu rosto. A mesma mania que tenho quando estou sozinho: acariciar a barba. Certa vez uma mulher me flagrou fazendo isso e disse que era sinal de carência – não a contestei. Ela não era próxima, tampouco tinha minha simpatia, mas aquela senhora fez algo que nunca vou esquecer. Ela me puxou pelos braços e me deu um abraço de uns cinco minutos. E em contato com aquele corpo tão desprezado, nunca fui tão querido.